Restaurante, Ikeda, Cozinha Japonesa, Origami
©Cláudia PaivaIkeda
©Cláudia Paiva

Os melhores restaurantes a que fomos em 2018

Numa época de balanços, este não podia faltar: a lista dos melhores restaurantes a que fomos em 2018

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Todos os restaurantes que figuram nesta lista foram alvo de uma selecção criteriosa e atenta, e todos eles receberam, sem excepção, quatro ou cinco estrelas dos nossos críticos. Estes, almoçaram ou jantaram anonimamente, uma, duas ou mais vezes nos mesmos sítios, pagaram a conta e relatam-lhe, aqui, o que comeram, sentiram e viveram. Sempre regidos pela isenção e pelo rigor que uma opinião permite. Portanto, pegue nesta lista com os melhores restaurantes a que fomos em 2018 e leve-a consigo para todo o lado. Não precisa de agradecer. Bom apetite.

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Os melhores restaurantes a que fomos em 2018

  • Restaurantes
  • Bonfim
  • preço 2 de 4
  • 5/5 estrelas
  • Recomendado

Não foi preciso estar com muita atenção para perceber que nos últimos anos a cena gastronómica portuense mudou. E muito. E no meio de nascimentos quase espontâneos de dezenas de restaurantes e espaços de restauração, bons e maus, todos os meses, há alguns que desafiam a norma e chegam a bom porto pelo caminho mais arriscado – tal e qual os salmões do Norte que sobem os rios contra a corrente e proporcionam, a quem vê, um bonito espectáculo da natureza.

É a esses restaurantes que mais atenção gostamos de dar. Não só porque exploram novos produtos ou técnicas, mas porque nos divertem à mesa, nos dão experiências e nos criam memórias. E comer, nos dias que correm, é muito feito disso. Assim foi no Apego, um restaurante no topo da Rua de Santa Catarina, na parte mais deserta daquela que é a artéria mais movimentada da cidade.

Obviamente que um trocadilho com o nome não podia faltar, mas a verdade é uma, volta e meia criamos apego às coisas e é chato vê-las partir. Por isso, subam um pouco mais a rua. Afastem-se dos turistas, das compras, dos homens-estátua e entrem no bonito espaço que Aurora Goy, a chef de 29 anos, filha de mãe portuguesa e pai francês, decorou para nos receber. As paredes em pedra, as mesas em madeira, o sofá corrido, os tons quentes e o serviço atencioso. É fácil sentirmo-nos bem por lá, especialmente se a isto juntarmos uma carta curta e um menu de degustação de seis pratos, bonitos e bem-feitos, muito em conta (30€). Não digam que não vos avisámos. Não chorem depois.

Estas cinco estrelas não são perfeitas, mas são merecidas. Houve coisas muito boas e outras que não me deixaram tão entusiasmado, mas Aurora, sozinha na cozinha, não teve medo. Saiu tudo bem, sem demoras e com amor. O mesmo se passou com o Mito, do chef Pedro Braga, ou com o restaurante do chef Pedro Limão, com o mesmo nome, que receberam quatro estrelas aquando das visitas dos críticos desta revista, mas que pelo arrojo e atrevimento mereciam umas cinco também. Os tais salmões que sobem os rios.

Mas vamos ao que interessa. 1) O couvert. Composto por um bom pão com acidez onde se barrou uma manteiga saborosa aromatizada com sálvia. Ao lado, uns gressinos de aspecto caseiro, salgadinhos e densos, e um prato com finas tiras de cenoura adocicadas com pimenta rosa e especiarias várias. Muito fresco e agradável.

2) As entradas. A primeira, mais untuosa e aconchegante, sabia a Outono. Era como se estivesse a mastigar o regresso às aulas, a queda das folhas e o São Martinho numa colherada só, que juntava um puré de castanha, castanhas assadas crocantes, uma gema de ovo morna cozinhada a baixa temperatura, queijo de cabra ralado na hora e dióspiro. Sim, o doce a rir-se na nossa cara, a baralhar-nos os sentidos e a fazer todo o sentido. Ajudava a que o prato não se tornasse monótono na boca e, em contrapartida, dava-lhe alegria. Tanto na cor como no sabor.

Um fresquíssimo filete de cavala acompanhado por uma maionese de lima, pinhões tostados e cebola cozinhada num ponto intermédio – nem crua, nem caramelizada, translúcida, perfeita –, uma viagem entre o Natal e as férias de Verão, foi um dos pratos vencedores da noite. A torta que se seguiu, uma terrine de carnes de caça, com notória influência da cozinha francesa, estava bem executada. Não era tão tcharam! quanto as outras entradas, mas há sempre um público mais clássico a quem também é preciso agradar. Os pickles de rabanete e beterraba que a acompanhavam estavam bons, um saboroso toque terreno.

3) Depois, os pratos principais. Um lombo de peixe-espada enrolado em repolho braseado com batata doce ganhou pontos por causa do molho: um caldo de peixe divinal, com cardamomo, raspas de tangerina, pimenta e, mon Dieu, sabe-se lá mais o quê. Era de se comer à colher. A rematar os salgados, chegou-nos à mesa um pato rosado, terno, no ponto, sem dúvida o elemento que mais sobressaiu neste conjunto, um tanto desconjuntado, composto por um puré de grão e outro de abóbora banais, pelo sabor terreno das acelgas e pelo doce dos marmelos. Estes, infelizmente, não tiveram tanto sucesso como o dióspiro.

4) Por fim, as sobremesas. Um gelado de cogumelos boleto com avelã, que deveria ter sido retirado uns minutos antes do frio (estava geladíssimo), pecava pela pouca surpresa. Muito moído, era como se estivéssemos a comer granola mole ao pequeno-almoço. Felizmente, foi superado pelo arroz cremoso com natas, cardamomo, pêras doces e biscoito salgado onde dava vontade de viver e reincarnar numa nova vida. E assim, num bonito jantar, numa rua meia deserta, vi o nascer da Aurora.

  • Português
  • Baixa
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Eu bem tento ser um homem elegante. Encostado a uma das laterais do guarda-roupa há um fato que todos os dias me desafia: “Quando é que me voltas a vestir, seu gordo?”. Há uns dias enchi-me de coragem e enfiei-me dentro dele. A minha mulher perdeu-se de riso e, antes que tivesse oportunidade de me tornar num alvo da sua chacota, convidei-a para jantar. E a Rita, habituada a ver-me sempre mal-amanhado, nem se importou de sair à rua com um boneco da Michelin.

Arranjei estacionamento à porta do Almeja numa sexta-feira à noite (estava com uma sorte dos diabos), mas o casaco apertado restringia-me os movimentos, pelo que só à terceira tentativa é que consegui enfiar o carro no lugar. Uma fila de condutores impacientes e invejosos atrás de mim chamava-me nomes feios. Nada que abalasse a minha confiança, ainda assim.

Entrámos no bonito espaço de casual fine dining de João Cura, um jovem chef de Coimbra, com passagens por restaurantes de Barcelona. As expectativas eram altas e sempre que assim é ponho-me nas mãos do chef. Escolhi, portanto, o menu de degustação (55€).

Primeiro, os snacks. Uma madalena de linguiça com gel de maçã. A contraposição de sabores não me convenceu. O bolo estava demasiado doce e o salgado do enchido pouco se sentiu. Depois, uma espécie de torresmo de bacalhau com alho negro, este último, adocicado, era o elemento mais interessante do conjunto. O alho-negro é um ingrediente fabuloso, tenho-o sempre na despensa, apesar de a dona Odete, que me trata das lides domésticas, os mandar sempre para o lixo. De nada adianta dizer-lhe que é uma cena gourmet.

O terceiro e último snack foi o mais surpreendente. Uma chamuça de vegetais com especiarias, levava açúcar e canela sobre a massa estaladiça. Uma viagem entre a Índia e o Natal. Assim, sim.

Segue-se o momento do pão, uma moda dos restaurantes com menus de degustação. O pão de mistura caseiro, feito com massa-mãe e levedado lentamente, era acompanhado por um bom azeite alentejano acidulado e uma manteiga cremosa polvilhada com leite em pó.

Entretanto chega uma entrada composta por ervilhas levemente escaldadas para manter a crocância, num óptimo caldo salgado feito com a casca da ervilha, mais gema de ovo curada e uma atractiva flor de alho que quando apertada entre os dentes revelava um sabor levemente picante. Em seguida, o arroz negro, estrela do prato, cozinhado no ponto, tal como o peixe branco e o lingueirão, e rematado por pés de salicórnia. E mais um copo de Riesling. O serviço, atencioso e informado, passava quase despercebido. E isso é bom.

A Rita ria-se das minhas piadas quando aterrou na mesa uma presa de porco bísaro em molho de cabidela. Tudo muito bem feito, cozinhado by the book, dir-se-ia, mas lamentei a falta de alguma diversão em toda a refeição. Em poucos meses, o Almeja conquistou um lugar entre os melhores restaurantes do Porto, por isso há que pisar mais o risco, ser mais arrojado.

Uma pré-sobremesa à base de granizado de clementina e ovo preparou terreno para o banoffee, uma festa que reuniu na boca um bolo de banana, uma bola de gelado e crème fraîche, tudo regado com um delicioso molho Butterscotch, carregado de manteiga e açúcar. A noite correu bem. A Rita gostou da comida (e do fato). E eu dei-me ainda melhor do que estava à espera.

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  • Português
  • Porto
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Uma má companhia pode deitar tudo a perder. E a História faz questão de nos atirar isso à cara. Atentemos no que aconteceu a Adão e Eva, que acabaram expulsos do Paraíso; à conta de Dalila, Sansão perdeu a força e ficou sem as tranças; e a vida pouco recomendável de Clyde atirou Bonnie para um fim trágico. Se tivéssemos que contar a história deste restaurante apenas do ponto de vista dos protagonistas, dispensando os actores secundários, este teria chegado sem dificuldade às cinco estrelas. Ainda assim, nada foi tão dramático como os exemplos supracitados. Ninguém nos convidou a sair, mantivemos todo o cabelo na cabeça e dali fomos para casa e não desta para melhor.

Mas vamos ao que interessa. A dona Amélia tinha um restaurante na Ramada Alta, mas mudou-se para o Campo Alegre onde continua a fazer felizes os seus clientes de sempre. E para sempre. Estou seguro de que irá demorar até voltar a comer umas amêijoas à Bulhão Pato tão boas como as desse dia. Grandes e gordas, com as conchas abertas, provocadoras, e a carne levemente cozinhada, vinham num molho límpido e salgado na dose certa, a saber bem a limão, alho e coentros, onde mergulhámos todo o pão que nos serviram. O decoro impediu-nos, contudo, de o beber à colherada. No fim, quando a conversa já era possível – até ali a boca abria-se apenas e só para ingestão – percebemos que éramos uns sortudos. Seguiram-se umas gambas ao alho, que em contacto com o molho quente (ligeiramente diferente e quase tão bom), cozinharam um pouco demais enquanto esperavam. Mas há que ser justo, depois daquelas amêijoas a competição torna-se difícil.

Ainda antes das entradas vieram para a mesa uns rissóis de carne, envolvidos em massa tenra, bastante bons e com uma boa fritura, e uns bolinhos de bacalhau que deixaram Alfredo Lacerda, um outro crítico desta revista, pelo beicinho. Tudo acompanhado por um fresquíssimo Papa Figos branco do ano passado, apresentado por um jovem empregado eficiente e simpático.

Uma dose de filetes de polvo com arroz do mesmo e outra de rabo de boi estufado foram as escolhas para pratos principais. As pernas grossas e tenras do cefalópode (provavelmente massajado pelas divinas mãos da dona Amélia), com uma boa fritura e um travo a limão, davam gosto comer. Enchiam a boca de umami e o cérebro de boas sensações. Já o arroz seco com pedaços de polvo rijos, meio frio, que o acompanhava, parecia ter sobrado do meio-dia. O rabo de boi também estava bom. A carne, bem temperada e aromatizada, com vinho, alho e louro, e untuosa como se quer, desfazia-se facilmente com a ponta da colher e escorregava bem com um puré de batata que, ainda assim, passava despercebido no conjunto.

Por esta altura já não cabia nem mais um alfinete, mas só um louco é que sai deste restaurante sem comer as sobremesas desta mulher. Primeiro, um toucinho-do-céu espesso, húmido, bem doce e com uma consistência no ponto. Depois, uma fatia inacreditável d’ “O Melhor Pão-de-Ló do Universo”. A massa leve carregava estoicamente uma monumental quantidade de doce de ovos sem se desmanchar. Se há dupla perfeita é esta.

  • Vegetariano
  • Cedofeita
  • preço 1 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O Época Porto funciona como todas as coisas na vida deveriam funcionar. Na verdade, este restaurante deveria ser uma espécie de bitola para o mundo. Por exemplo: a carta é curta, resume-se a três ou quatro opções que mudam diariamente. O stress fica lá fora, o ambiente neste espaço marcadamente escandinavo – influenciado, talvez, pela temporada que o casal à frente do projecto passou na Dinamarca – convida a relaxar com uma playlist cuidada e livros de gastronomia sobre as mesas. E tudo o que Liliana Alves e Tiago Teixeira lhe põem à frente é feito com produtos da época, maioritariamente biológicos.

Por isso, não é de admirar que estivesse cheio ao almoço, com gente de várias idades e diferentes tribos urbanas. Numa tela atrás do balcão anunciavam os pratos do dia. Um estufado de legumes com tubérculos de Outono num caldo de limão em conserva com hummus e salsa (6,50€) e uma tosta de ovos com verdes e queijo feta (6€) foram os escolhidos.

O grão-de-bico e a raiz de aipo do estufado estavam levemente bringidos, mantendo a consistência que tanto aprecio e que estalava entre os molares. Uma cenoura braseada dava doçura ao prato, o topinambur conferia-lhe textura e o hummus, a saber agradavelmente a funcho, compunha um conjunto capaz de aquecer corpo e alma. Uma fatia de um pão de água fofo, ligeiramente ácido por causa da fermentação lenta e natural feita ali mesmo, mas saboroso e com uma crosta crocante, ajudava a absorver o caldo de limão, aromatizado com coentros e salsa, do fundo prato.

Do mesmo pão saiu ainda uma fatia que serviu de base à tosta barrada com uma pasta verde de acelgas e estragão. Por cima, dois ovos estrelados no ponto, a gema quase crua, couve crespa e molho sriracha. Simples, bom e eficaz.

Se estiver com tempo, peça uma das reconfortantes malgas de arroz integral (no dia em que lá fomos levavam gengibre, cogumelos shitake, ovo, chili e couve crespa) e um brownie de chocolate, húmido como se quer, para acompanhar o café de especialidade que também servem.

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  • Japonês
  • Baixa
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Há quem dobre a roupa interior por cores, ou esfregue os dentes 37 vezes de cada lado. Em cima e em baixo. O meu transtorno obsessivo-compulsivo não é tão minucioso mas é a fraqueza perfeita para me tornar o alvo de chacota da Rita, a minha mulher, que, mal entrou no Gion, não perdeu a oportunidade.

“Tens a certeza de que queres comer aqui? Não te vais sentir mal? Se calhar era melhor fazeres jejum. Não te fazia mal nenhum fazeres jejum.” As mesas estavam enviesadas em relação à parede e, adepto da simetria, não suporto coisas que não estejam paralelas.

Suei frio enquanto descia as escadinhas (dissimuladamente, claro, para não dar parte de fraco), e as mesas desalinhadas (para que coubessem mais porque o espaço é pequeno) foram rapidamente esquecidas à conta do bom atendimento. Rápido, atencioso e informado, foi dos melhores nos últimos tempos.

Uma espécie de amuse-bouche (não pedido mas cobrado) chega sob a forma de pequenos cubos de peixe branco e salmão fritos, marinados em molho togarashi, uma mistura de especiarias (2€). Ao mesmo tempo, pousam duas cervejas japonesas, uma Asahi e uma Kirin, bem frescas (ambas a 2,80€).

A saborosa panqueca okonomiaki vem bem servida de camarão e polvo, com alface e lascas de bonito que se agitam no prato em contacto com o calor. Por cima, uma maionese de ostras (10€). Um prato pelo qual o chef Bruno Cardoso, ex-Terra, se apaixonou quando foi ao Japão.

Depois, seguiram-se outros mais leves e frescos, bem cuidados, como as fatias de sashimi de peixe branco, atum, salmão e vieiras com tobiko, ovas de peixe voador, rematadas por cebolete e molho ponzu (11€); um temaki generoso com salmão e abóbora caramelizada, que lhe dava uma textura e doçuras fora do comum (5€); e ainda um set de gunkans (10€) e outro de niguiris (9€) com algumas falhas, mas perdoáveis. Um niguiri de salmão com molho miso revelou-se gorduroso e pesado, e um gunkan de salmão com um ovo de codorniz demasiado gelatinoso. Pequenos contratempos compensados por um niguiri de xaréu com yuzukosho, um condimento feito à base de pimenta e yuzu, um citrino, muito aromático e perfumado, e por um gunkan de corvina com ceviche de tomate e coentros. Óptimos.

A tarte de chocolate negro com um dulcíssimo caramelo de miso e uma outra merengada feita com yuzu, muito suave e nada amarga, são duas sobremesas altamente recomendáveis neste Gion (ambas a 5€).

  • Japonês
  • Campo Alegre
  • preço 4 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Reza a história que o químico Kikunae Ikeda teve uma epifania enquanto sorvia ruidosamente (como devem ser ingeridos os caldos japoneses) o seu dashi ao jantar. Naquela noite de 1907, espantou-se quando percebeu que a comida estava mais saborosa do que era costume por causa da adição de kombu ao prato. Daí até começar a estraçalhar esta alga em laboratório foi um instante e o resultado foi a descoberta do ácido glutâmico, responsável pelo quinto gosto: o umami, que é também a palavra-passe para aceder à internet deste restaurante.

A casa é bonita, decorada com painéis em madeira, cerâmicas cuidadas em cima das mesas e até os pauzinhos delicados diferem dos que se vêem na maior parte dos restaurantes asiáticos da cidade. O tecto do andar superior (possivelmente o elemento mais instagramado do espaço, até mais do que a comida), está coberto de cranes em origami, o pássaro que para a cultura nipónica é sinónimo de felicidade.

Na cozinha, Christian Oliveira e Agnaldo Ferreira, os dois sushimen há muitos anos. O primeiro passou pelas cozinhas do Gull e do Terra. O segundo rumou à capital onde trabalhou com Oliver no Yakuza, antes de abrir o seu Hikidashi, um dos melhores restaurantes de sushi de Lisboa. Mas vamos à comida. Para começar, o risco. Pedimos as espetadas de vieira com ameixa japonesa (12€). A vieira fresca, vinha ligeiramente braseada e envolta num molho de amendoim e soja adocicado, que contrastava com o sabor ácido e picante do fruto. Foi tão desconcertante como entusiasmante. Foi como se no ringue levasse um murro na boca. Um gancho de esquerda assim sem contar. Depois, a defesa. Umas gyosas de frango e vegetais com molho ponzu (7€). Boas, mas banais. Venha daí o the thrill of the fight que torna a vida muito mais emocionante, como o new style sashimi que se seguiu (16€).

Este, uma espécie de carpaccio de peixe congelado (que facilita o corte dos mesmos em fatias muito finas), trazia atum, peixe branco e salmão envoltos num molho trufado, ligeiramente picante, com ovas de peixe voador e sésamo. Tau. Outro K.O. bem dado. O meu ramen chega entretanto à mesa mas recusa-se a dar-me luta (15€). Baixou os braços, um pouco desenxabido. Trazia as carnes do porco secas e revelou-se muito parcimonioso com os seus cogumelos. A minha companhia, pronta para atirar a toalha ao tapete perante o meu sofrimento, salvou o round quando me deu a provar da sua Gyu Bowl (23€).

Umas fatias de picanha maturada braseadas, quase cruas e muito finas, repousavam lindamente sobre uma massa de trufas negras e parmesão, muito gorda e carregada de manteiga, óptima para recuperar energias entre combates. Pedimos ainda um chá matcha (5€). O ritual preparado à nossa frente, apesar de bem-intencionado, foi um pouco trapalhão como, aliás, praticamente todo o serviço.

O último round veio em forma de gelado de saquê (4€). Um golpe perfeito para rematar a refeição. Forte no sabor e agradável na consistência.

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  • Pizza
  • Galerias
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Sempre fui uma pessoa de constituição magra, mas há uns dez anos, a estudar em Itália, consegui a proeza de engordar sete quilos em quatro meses. E convenhamos, agora que olho para as fotografias, a semelhança entre a minha pessoa e uma alheira com a pele a estalar é por demais evidente.

A um quarteirão de distância da minha casa existia uma trattoria, uma espécie de adega, chamada Posto al Sole. Lá faziam-se as melhores pizzas napolitanas da cidade, de massa fina, bordas grossas, ingredientes frescos, tudo regado com um fio de azeite ácido a rematar. Desde então (uma década!), a minha sina tem sido procurar uma massa de pizza como aquela.

Fui uma primeira vez ao Il Pizzaiolo quando abriu. Um sítio com boa onda e cosmopolita na Rua Cândido dos Reis, mas com alguns problemas a nível do serviço, que se mantiveram na segunda volta. Na altura pedi uma pizza e trouxeram-me um calzone, informação que não estava mencionada na carta.

Há dias arrastei-me novamente até lá, embora com medo de mais alguma aldrabice. Mas fui surpreendida. E bem. Pedimos uma burrata, que ao primeiro golpe da faca se desfez num creme leitoso e irresistível (11€). Vinha acompanhada de rúcula, tomate e speck, um presunto fumado originário do norte de Itália. Estava boa, mas uma entrada tão simples e gloriosa pedia um pouco mais de salero.

Depois, a pizza. O calzone da outra vez encheu-me a boca de enfado. Mas esta vinha fina como eu gosto e crocante nas bordas inchadas pelo calor do forno Stefano Ferrara mesmo à entrada. Quanto aos ingredientes, estava lá tudo. A gulodice da mozzarella e do molho de tomate, a frescura do endro e da raspa de lima, e o lado salgado e imponente do salmão fumado e das alcaparras (10,50€).

Para a mesa veio ainda um risotto trufado com cogumelos variados e raspas de queijo parmesão que, apesar de reconfortante e cozinhado como deve ser, pecou por não estar um pouco mais meloso (12,50€). Rematámos a refeição com uma torta caprese sem graça, feita com amêndoa e chocolate, e acompanhada por uma bola de gelado de morango, a saber a supermercado, igualmente desprovida de piada (4€).

  • Fusão
  • Baixa
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Antes de cruzarmos a ombreira da porta éramos dois tântalos esfomeados. Duas personificações do filho de Zeus que, diz a mitologia grega, foi sentenciado ad aeternum a ficar com fome e sede, amarrado a uma árvore, num vale abundante em vegetação e água. Sempre que Tântalo tentava colher os frutos das árvores, os ramos afastavam-se. Sempre que tentava beber água, ela fugia.

No Mito, o primeiro restaurante do chef Pedro Braga, que passou pelas cozinhas do Reitoria e do Tenra antes de embarcar nesta aventura a solo, perceberam isso assim que entrámos e, antes que nos desse uma fraqueza, o serviço, atencioso, foi dos mais rápidos que já presenciei no Porto. Em menos de nada, tínhamos à frente um couvert composto por pão escuro, acabado de cozer, e uma manteiga de sriracha, ligeiramente picante, que deu vontade de comer à colher.

A carta, com várias opções para partilhar, está dividida em quatro secções: quentes, frios, no carvão e doces. Arrancámos com uns croquetes de boi velho – a carne maturada é uma aposta do chef, já que no menu há ainda um costeletão com um mês de maturação. A dos croquetes, tenra e desfiada, estava bem temperada, cheia de sucos, e ligava muito bem com uma maionese de chouriço.

A Rita pediu umas gulosas asas de frango tandoori, escoltadas por um molho de iogurte com pepino, lima e coentros que lhes cortava a untuosidade, e ainda um arroz de tamboril para duas pessoas. Vinha solto e com generosos pedaços deste peixe magro, e alguns camarões levemente cozinhados, a boiar num caldo temperado com sriracha, coentros e cebolete.

A Rita estava feliz. A comida, o (forte) cocktail Medronho Sour e eventualmente as minhas piadas parvas estavam a fazer efeito, por isso fiz a minha jogada: pedi o tutano. O segredo para a felicidade está em agradar ao outro primeiro. Happy wife, happy life, como se costuma dizer. Por cada duas coisas que ela peça, eu peço a terceira sem direito a reclamação. E se o tutano com crosta de camarão crocante pode parecer estranho, a verdade é que nos levou numa viagem aos confins da Ásia. A textura gelatinosa da medula, as especiarias asiáticas, a lima e os coentros por cima fizeram deste prato arrojado um petisco divinal, que nos deixou, literalmente, agarrados ao osso.

Depois, as sobremesas. Escolhemos sem hesitar a rabanada de matcha com gelado de bacon e xarope de ácer da qual toda a gente fala. Ela adora rabanadas, eu nem tanto. E o mais bonito de perceber que funcionamos como casal, e que isto é para a vida, é que gostamos do mesmo tipo de comida. Era uma boa rabanada, sem dúvida, mas implicamos com os bocadinhos de bacon que compunham o gelado. Baralhavam o palato e eram desconfortáveis. Pedimos ainda uma pavlova de frutos vermelhos, com groselhas, amoras e cerejas maceradas, por cima de um suspiro meloso a saber a menta fresca. Estava bom, mas ainda assim um bocadinho aquém dos pratos salgados. É um restaurante de quatro estrelas, a puxar para as cinco. Ou seja, quase um banquete digno dos deuses do Olimpo.

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  • Global
  • Baixa
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

No início é uma alegria. Vamos viajar, ver o mundo, ser eternamente jovens. Depois há hipotecas para pagar ao banco, contas da luz astronómicas, berros da canalha e o mundo fica a ver-se por um canudo. Esquece lá a viagem ao Japão, a escapadinha a Itália, ou o jantar de sexta com os amigos da bola. Tudo parece muito mais complicado do que passar um camelo pelo buraco de uma agulha. Por isso, depois de muito queixume de que “já não íamos a lado nenhum”, levei a Rita a ver o Mundo.

Este restaurante, com a mão de Carlos Bravo e José Ribeiro, donos da Casa de Pasto da Palmeira e do LSD, e com a consultoria do chef João Pupo Lameiras, é um dos lugares mais animados da Baixa nas noites que correm. Nesse dia, o espaço de aspecto industrial, com candelabros sepultados sob quilos de estearina que pingavam das velas acesas, tinha um DJ à entrada. Da barra saiam bons cocktails com a assinatura do The Royal Club (entre os 7€ e os 8€) e pelas paredes havia desenhos do graffiter Fedor Rua: cinco mulheres, cada uma a representar um continente.

Antes de me atirar à comida, um parágrafo para elogiar o atendimento. Foi dos melhores que encontrei até hoje. Rápido, eficiente, simpático e altamente entendido sobre tudo o que saia da cozinha.

Ligaram-se as turbinas. A descolagem de um avião chamado Mundo começou com um pão branco e umas placas de massa wonton fritas, um tanto gordurosas, acompanhadas por uma manteiga de miso e por um chutney de banana e caril com queijo creme. Um couvert com alguma turbulência e que não ficou na memória. Rapidamente chegou à mesa o tiradito de vieiras (8€). A esta altura sobrevoávamos o Peru. O tiradito é um prato da cozinha nikkei, que funde influências peruanas e japonesas. Trazia umas vieiras frescas laminadas com um creme de abacate e baunilha, pastoso e adocicado, cortado pela acidez dos morangos ainda (demasiado) verdes. Ficou um pouco aquém do esperado.

Só depois é que o Mundo ganhou altitude. Seguiu-se um carpaccio mexicano (7,50€). Uma revelação que acontece poucos segundos depois de estar na boca. Explode o calor da malagueta, a frescura da hortelã, a carne macia cortada finamente, a tortilha estaladiça e o pico de gallo bem temperado.

Uns aromáticos aros de lula com sweet chilli e amendoim desapareceram à velocidade de um concorde (7€) e, sem darmos por ela, estávamos na Ásia. Aterrou sobre a mesa uma grande bandeja com saam de porco, um prato inspirado na cozinha coreana, que consiste em enrolar à mão pedaços de carne em vegetais (21€/para duas pessoas). A carne era gulosa e tenra, a desfazer-se, vinha com pimentos vermelhos e amarelos, crepes, couve roxa e líchias. Um festim. Também trazia alfaces, mas ficaram de parte por estarem mal lavadas.

Os noodles udon (13€), com cogumelos shitake, traziam as gambas secas e uma maionese desnecessária que nos fez querer chegar logo ao destino: as sobremesas (ambas a 5,50€). Aconselharam-nos o bom bolo ao vapor com chocolate, gelado de amendoim e caramelo, mas um pouco pesado a esta altura da viagem, daí termos achado mais piada aos churros com três molhos. Um de chocolate negro e pimenta rosa, outro um creme de matcha, e ainda outro de toffee com especiarias.

Todas as viagens têm um fim, é certo. Esta, ousada no percurso, aterrou em segurança. E teve um final feliz.

  • Steakhouse
  • Galerias
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

O Muu é tão bonito que o meu namorado ficou à conversa com o empregado de mesa, que entretanto se instalara no sofá ao meu lado, tecendo rasgados elogios aos rebites, às dobradiças, às chapas acobreadas, e ao impressionante trabalho que o metalúrgico fizera ao revestir parte do restaurante a metal.

O resto da elegância desta steakhouse na Baixa dividia-se entre uma parede em tijolinho, a dar ares industriais; uma imponente garrafeira iluminada, com uma grande oferta de vinhos; uns opulentos pedaços de carne em maturação, numa vitrina sobre a cozinha aberta, e outros pormenores. A minha meia hora a decidir o que vestir para o jantar foi em vão, pensei. E aceitei que naquela noite havia muito mais para onde olhar.

Depressa a nossa atenção recaiu sobre o que começou a chegar à mesa. Um amuse-bouche composto por um crocante com carne black angus braseada, queijo e rebentos de beterraba foi oferta da casa. E uma cesta com três pães, ainda quentes, um deles com nozes, acompanhados por duas manteigas, uma trufada e outra adocicada, com um surpreendente sabor a xarope de ácer, desapareceu num ápice. Não que estivéssemos com fome, mas a sofreguidão era muita: esperámos quase dois meses para arranjar mesa neste restaurante, cujos donos gerem também o Tascö, na porta ao lado.

Ele continuou a apreciar sonoramente o trabalho do serralheiro (era capaz de jurar que nem a Mona Lisa recebeu em 500 anos tantos elogios como aquelas paredes em cinco minutos) e só se calou quando enfiou na boca uma garfada do Johnny’s Scotch, uma versão do ovo escocês, envolto em carnes, panado, muito guloso e crocante, com um puré de chalotas e couves de Bruxelas a completar (9€). Uma entrada mais invernal, que se contrapôs largamente ao preparado que se seguiu. O Polinésia apresentou-se bonito e muito fresco, feito com gambas cozinhadas no ponto, mexilhões a saber a maresia, um saboroso puré de batata doce, mais lima, coentros com fartura, mas sem exagero, malagueta e leite de coco (12€).

O tomahawk prendeu-lhe o olhar (64€). Vinha todo convencido por se saber tão tenro e se desfazer tanto na boca. E um pouco exibicionista também, mostrando descaradamente a carne rosada, mal passada, e temperada apenas com flor de sal. Ao lado, um tacho de arroz de forno com chouriço e uma dose de batata rosti, muito gulosa, cortada finamente e carregada de queijo e trufa. A sangria de espumante com citrinos, frutos vermelhos e menta aliviava a untuosidade do conjunto (28€).

A refeição aproximava-se do final. As sobremesas, de tão bonitas, davam pena estragar. O ninho do Goulart, por exemplo, impelia-nos a viver nele. Era feito com dois ovos de chocolate branco sobre um bolo de cardamomo com matcha, creme de amêndoa e kataífi, uma espécie de massa de aletria. O sabor é que ficou um pouco aquém do esperado. O mesmo aconteceu com a Aqcua di Muu. Igualmente espantosa ao olhar, com um quindim brasileiro num mar de mousse de coco, onde boiavam pedaços de ananás e apontamentos de gel de hortelã, também precisava de ser mais tcharam. As cinco estrelas estiveram quase lá.

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  • Steakhouse
  • Galerias
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

As mulheres não têm sempre razão. A Rita, a minha, dona de um nariz empertigado, mas adorável, cheio de sardas, comunicou-me que ia fazer um detox. Assim, consummatum est. Portanto, se eu quisesse comer, eu que cozinhasse, porque dali em diante ela iria beber couves e acelgas através de uma palhinha. Não a tentei demover, obviamente, porque a esta altura do campeonato um homem deve poupar o pouco latim que lhe resta. Mas fiz-lhe saber que achava má ideia, na esperança de sacar de um “eu avisei-te” mais tarde.

Na terça-feira ao fim do dia ligam-me do ginásio. A Rita tinha tido uma quebra de tensão durante uma aula de air fit não sei quê e caíra redonda no chão. Dramática, quando lá cheguei parecia que lhe tinham roubado um rim. “Carne, mulher, uma pessoa precisa de carne”, disse-lhe no carro a caminho de casa. E no Nogueira’s Porto, o restaurante de uma família que começou a vender churrasco na década de 90, havia de sobra.

Trincámos uns pãezinhos brancos, acabados de cozer, mergulhados em azeite da Herdade do Esporão, enquanto escolhíamos da carta. Uns baos recheados com porco desfiado, rúcula, amendoim picado e molho agridoce pareceram-nos ideais para começar (6,90€). Não estavam maus, longe disso, mas faltavam-lhe aquele toque de frescura – da lima ou dos coentros – para os tornar memoráveis. De resto estava lá tudo, da crocância à doçura.

Seguiram-se umas costelinhas cozinhadas a baixa temperatura (10,90€). Uma maravilha. A carne a separar-se do osso, a desfazer-se na boca, a fundir-se com um molho guloso, ligeiramente picante e agradável. Tudo empurrado por um Longos Vales Alvarinho fresco, bom para limpar o palato da untuosidade da carne.

Depois, os pratos principais. Primeiro, um filet mignon de 200 g (19€), enrolado em tiras de bacon, e acompanhado por uns palitos de polenta, ensopados em óleo, e um tachinho de legumes assados banais, com beringela, curgete e cenoura.

Ainda que no ponto de cozedura exacto, este corte pecou pela falta de sabor e ficou muito aquém do Black Angus New York steak de 300 g (23€) que se seguiu. Este era uma obra de arte, temperado apenas com sal e pimenta, com uma grossa tira de gordura no rebordo que, por ter estado em contacto com a grelha, derreteu e fez com que os seus sucos se entranhassem pelos veios da carne, tornando-a tenra, como se a faca deslizasse por entre manteiga, e saborosa, ganhando destaque entre os melhores bifes que já comi na vida. E Rita, tão adepta dos detoxs e que sempre aparava a gordura, comia-o com sofreguidão.

Escusado será dizer que o bolo de chocolate, mal cozido na base, com frutos vermelhos no meio e uma mousse por cima – uma bomba demasiado pesada e calórica para uma refeição como esta – já não era necessário para subir as tensões à Rita (4,50€). E enquanto ela se lambuzava com o doce, pareceu-me oportuno o glorioso “eu avisei-te”. Ao invés disso, e evitando um divórcio precoce, preferi dar sumiço à liquidificadora assim que chegámos a casa.

  • Cozinha contemporânea
  • Bonfim
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Há uns anos, à saída de um restaurante com estrela Michelin, perguntei ao chef, que se despedia dos clientes à porta, se ele tinha deitado MDMA na comida. O meu estado de excitação e de alegria era tal que ponderei seriamente a hipótese de me terem drogado a refeição. A resposta foi um não, obviamente, portanto atribuí a felicidade que sentia ao incrível menu de degustação dessa noite e à brilhante harmonização que o escanção fizera com os pratos.

Desde então já me sentei à mesa de muitos e bons restaurantes, que me serviram coisas incríveis e que me ensinaram outras tantas. Em quase todos sabia ao que ia, por isso, a surpresa era expectável. Mas numa destas sextas-feiras quentes à noite, e sem ter dado um aviso prévio ao meu sentido retronasal, fui jantar a um simpático restaurante, com poucas mesas, ali para os lados do Bonfim, e saí de lá como se tivesse embarcado numa bela trip.

Um óptimo pão de fermentação lenta com massala, cuja acidez provocava uma sensação agradável na boca, vinha acompanhado por um pouco de azeite acidulado, que prolongava esse sabor, e uma boa manteiga aromatizada com especiarias de Goa. Ao lado, um copo de Alvarinho fresco. Bela maneira de começar, pensei. Seguiu-se uma espuma de mexilhão (raramente uma espuma marca pontos comigo, acho-as desinteressantes), com percebes (um deles ainda inteiro e a precisar de ser descascado, com pouco sabor e com muita areia, infelizmente) e ainda umas chips de salsa, o elemento mais interessante do conjunto. O entusiasmo esmoreceu, mas por pouco tempo. Um momento dedicado aos cogumelos fez-me restaurar a fé no chef Pedro Limão e no seu menu de degustação.

Um ravióli al dente, recheado de cogumelos, e acompanhado por maionese e pó de cogumelos, mais cogumelos salteados, em pickle e desidratados, transformou um prato tendencialmente pesado, numa versão divertida e leve.

Depois, um tártaro de novilho fresco com um merengue doce de ostra (um pouco menos de doçura não ficaria mal) e uma divertida gema de ovo curada e prensada. Bonito.

Um vinho branco do Douro acompanhou um caldo de choco, com este molusco bem cozinhado, mais espuma e a sua tinta. A pausa na refeição deu-se logo a seguir e foi feita com gin e espuma de yuzu, um citrino (mais espuma não, por favor).

Demos entrada nos pratos principais, já bastante animados. Apesar de algumas falhas, o arrojo da refeição e o esforço da equipa em dar algo diferente à cidade era evidente, e para nós, dois comilões que choraram a morte do Bourdain, isso é ouro sobre azul.

Um fricassé de bacalhau bem envolvido em ovo, guloso, com uma chip de risoto de azeitona; e uma tenra bochecha de porco de comer à colher, num óptimo molho de carne foram os pratos que se seguiram. Este último trazia espargos crocantes, cozinhados no ponto, mais nabo e tapioca, com um pó de estragão a envolvê-los. Muito bom.

Um tinto biológico acompanhou um dos pontos altos da refeição. Uma pré-sobremesa que passaria bem por uma salada italiana. Queijo de cabra frio e untuoso, uma folha de pesto muito interessante, e espuma de tomate (!). Perfeito. O remate foi feito com tapioca, vinho do Porto e creme de amêndoa. Sob o efeito de estupefacientes ou não, saímos em êxtase.

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  • Português
  • Santa Catarina
  • preço 2 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Sabíamos ao que íamos. José Canelas (sala) e Maria da Soledade (cozinha), corpo e alma da mítica Casa Nanda durante quase 40 anos (juntamente com a dona Fernanda, que lá permaneceu), partiram para outra aventura no final do ano passado, numa altura em que a comida tradicional portuguesa parece caída no esquecimento pelos restaurateurs.

Abriram o Senhor Zé ali para os lados dos Poveiros. E o senhor Zé abriu-nos a porta com uma recepção cordial e calorosa que só sai genuína depois de muitos anos a virar frangos – apesar de não termos comido nenhum nesse dia.

Entretive-me a roer a boa broa, enquanto deitava uma mirada aos recortes de revistas e jornais encaixilhados nas paredes a dar conta da abertura deste novo restaurante. Não sobrava espaço nem para mais um louvor.

O serviço de sala foi irrepreensível. Sabe bem um atendimento cortês de vez em quando. Não se porem de cócoras ao lado da mesa enquanto anotam o pedido ou não te tratarem por tu quando perguntas onde é a casa de banho é um luxo nos dias que correm. Não que aprecie grandes formalismos, mas o respeito de e por quem nos serve deve ser mútuo.

Sugeriram (com um notório conhecimento) um Lello branco do Douro, mais acidulado, para acompanhar a refeição. O couvert vinha num tríptico a pedir mais afinação (2€). As pataniscas traziam generosas lascas de bacalhau mas a precisar de mais tempo a escorrer. Os rissóis de camarão vinham com grossos pedaços do mesmo, mas o pódio, esse, foi para o croquete, com uma boa fritura, vinha cheio de carne e bocados de chouriço. A tradição bateu-me ali logo em cheio.

Seguiu-se um arroz de berbigão suave, leve, muito aromático, à conta dos coentros incorporados na calda, e a saber bastante a mar (9€), mas faltou-lhe a fanfarronice dos filetes de peixe-galo frito com açorda do mesmo que se seguiram (14€). A carne branca e luzidia do peixe desprendia-se da pele bem frita e escorregava pela garganta libidinosamente. A açorda, cuja gema crua foi misturada à nossa frente, estava igualmente saborosa e era enriquecida pelas ovas do peixe. Rematámos a refeição com um leite-creme queimado caseiro e comedido. E questionava-me, entre colheradas, se esta crónica iria para a parede também.

  • Restaurantes
  • Flores
  • preço 3 de 4
  • 4/5 estrelas
  • Recomendado

Perguntaram-nos se queríamos o couvert, uma gentileza que não se encontra em todos os lugares. Na maior parte dos sítios espetam-te com ele à frente e se respirares sobre o cesto debitam-te sumariamente o conteúdo na conta. Mas aqui, comer o couvert deveria ser uma imposição. Como a sopa, quando somos pequenos. Enquanto não rapares o prato, não há bife ou sobremesa para ninguém.

O pão do Typographia Progresso do chef Luís Américo, que é uma espécie de rei Midas, já que transforma em ouro tudo em que toca – basta ver os casos de sucesso do restaurante Cantina 32 e do Puro 4050, que recebeu cinco estrelas de um dos críticos da Time Out –, é artesanal e feito ali mesmo, como fizeram questão de me garantir.

Barrei um pouco de manteiga de alho negro e paprica sobre um pão de batata-doce fofo e saboroso, ainda quente. Não mentiam sobre a qualidade do couvert. Este trazia ainda broa de milho, pão de alfarroba, azeitonas temperadas com citrinos e uma tacinha com alioli onde carregaram fortemente no alho. Desapareceu tudo enquanto o diabo esfregava um olho (2€/pessoa).

Bebericámos dois copos – um Papa Figos branco, acidulado, e um tinto encorpado e quente (5€/copo) – e apreciámos a decoração enquanto não chegavam as entradas. Neste restaurante, com uma carta que espelha influências do mundo, funcionara em tempos uma tipografia e é possível ver por lá as máquinas de impressão bem enquadradas no espaço, decorado em tons verde-garrafa, preto e dourado. Um relógio de parede de proporções abissais deixou-me ligeiramente desconfortável, a sentir-me o coelho da Alice no País das Maravilhas com pressa de chegar a algum lugar.

Primeiro veio a salada japonesa de algas wakame com soja e sésamo, fresca, mas pouco entusiasmante (5€). Depois, um salmorejo (3,50€), uma sopa cremosa espanhola, da região de Andaluzia, feita com tomate, pão, alho, azeite e muito vinagre, como esta, aconselhável apenas a espíritos apreciadores de sabores fortes, e que me fez lembrar a mesma sopa que um ex-namorado me preparava. Era um ás na cozinha, pena que não tenha funcionado...

Para pratos principais pedimos uma moqueca brasileira com arroz de grão longo, muito solto, quase a fugir do garfo, e um molho a saber a coco e a tomate, onde nadavam camarões cozinhados no ponto (15€). O cachaço de porco arrancou mais aplausos (16€). Vinha tenro, cheio daquela gordura boa que o torna tão saboroso e que lhe permite ser comido à colher. Ao lado, umas tiras de polenta sequinhas e estaladiças e uns brócolos crocantes rematavam o conjunto. Ambos os pratos estavam muito bem feitos, com os ingredientes cozinhados na perfeição, mas que na minha opinião pediam um pouco mais de arrojo. Afinal é Luís Américo, não é um chef qualquer.

A vontade foi-me feita à sobremesa. Américo juntou duas receitas tradicionais portuguesas: pêras bêbadas cozidas em tawny, e aletria. O resultado foi um belo contraste entre a massa fria com a fruta quente, tudo na dose certa de açúcar, com um toque simples de genialidade (4€).

O melhor que se come no Porto

Cada vez mais, a gastronomia do mundo está bem representada na cidade. Argentina, Israel, China, França, Brasil, México, EUA e Índia são alguns dos países nesta lista. Se está sempre pronto para experimentar novos pratos, provar novas bebidas e viajar sem sair do sítio, este artigo é para si. Só precisa de juntar os amigos, fazer check-in nestas mesas e mudar de ares nos 15 melhores restaurantes do mundo no Porto. Bifes, falafel, pato com laranja, foie gras, moqueca, guacamole, hambúrgueres e caril são alguns dos pratos que vai poder provar.

  • Restaurantes

Nesta lista há saladas, açaí e tapiocas. Mas também há tostas, pizzas, wraps e taças de arroz que respiram saúde. Para beber, não faltam as águas aromatizadas, os sumos de fruta e os detox. Pois bem caro leitor, se é adepto de uma alimentação regrada e muito saborosa, leia o que se segue e descubra os 17 melhores restaurantes saudáveis no Porto. Comer bem é uma tendência e a cidade está cheia de bons exemplos. Seja para um pequeno-almoço reforçado ou para um jantar leve, nesta lista há alternativas para todos os gostos.

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